14.5.21

Oficina de Escrita Criativa

 

“Devíamos ser todos irmãos”.» 



Na aula de Português do 7.º D, no passado dia 26 de abril, os alunos foram desafiados pela professora Alice Granginho, a escrever um texto narrativo que deveria terminar com o seguinte excerto do Diário de Sebastião da Gama: «E etc. Neste etc. ia um apelo do Poeta - do mais fundo, do mais humanamente bonito do Poeta: “Devíamos ser todos irmãos”.» 

 


Eis alguns dos textos escritos pelos jovens escritores. Boa leitura!

 

 

 

            Num belo dia de primavera, em que o céu estava azul como o mar, eu estava a passear por um jardim florido. Os passarinhos chilreavam como uma música calma. 

            Lá continuava eu a passear até que vi um senhor vestido com roupas velhas, com a camisa furada pelas traças, os sapatos com a sola descolada e um chapéu sujo e roído pelos ratos, colocado na beira do passeio de cimento. Reparei que ele tinha uma guitarra que vibrava uma música mais calma do que o vento. Ele não tinha muito bom aspeto, mas decidi aproximar-me, enlevado pela melodia. Quando me viu, ele disse-me: 

- Olá, meu jovem, poderias dar-me uma esmola? 

- Sim, posso, mas, além disso, hoje vou levá-lo à barbearia e a um restaurante. Depois, vamos dar um passeio por esta bela cidade. 

            Ele aceitou e ficou todo feliz, como se fosse uma criança a receber um brinquedo muito desejado. 

            Uma vez que ele aceitou a minha proposta, passamos juntos uma boa parte do dia.  Durante o caminho, ele foi-me contando a sua história de vida. Foi por pouco que não me emocionei e não senti as minhas lágrimas salgadas a escorregar pelas minhas feições. 

Eu achei-o um senhor muito humilde, mas bem-disposto. No final deste belo dia, quando o sol tão laranja como o fruto se ia pôr, ele cantou-me uma canção cujo poema versava sobre a vida... 

«E etc. Neste etc. ia um apelo do Poeta - do mais fundo, do mais humanamente bonito do Poeta: “Devíamos ser todos irmãos”.» 

 

 

Rodrigo Silva

 

Os três poetas 

 

            Há alguns anos, conheci três poetas. Dois deles eram parecidos, mas o terceiro era completamente diferente, uma joia em pessoa. Em vez de se preocupar consigo, só queria o bem e a paz para todos. Escrevia e escrevia para tentar transportar as pessoas para um mundo melhor. Chamava-se Carlos. 

            Num dia de sol, encontrei-os a todos sentados no parque a redigirem poemas. Cheguei-me à beira deles e perguntei se podia espreitar o que escreviam. Após ler os três poemas, os companheiros de Carlos perguntaram-me: 

            - Qual é o que está melhor? 

            - Bom, para mim, há um poema que se destaca vivamente! Faz-nos sentir nas nuvens. É como se fosse um pequeno diamante, que ilumina cada vez mais a nossa vida! Tem rimas muito elaboradas, com recursos expressivos e sensações emocionantes. Os seus fios unem-se mais cada vez que o relemos. Esse poema é o do Carlos. – disse eu. 

O Carlos corou, porém, os outros dois ficaram com ciúmes. Levantaram-se, pegaram no poema dele e rasgaram-no. O Carlos olhou para mim. Deu para perceber a tristeza que ia no seu coração e no seu olhar. Eu conseguia ler o seu pensamento… Apesar da tristeza profunda, sobressaíam o perdão, a esperança na mudança,…

«E etc. Neste etc. ia um apelo do Poeta - do mais fundo, do mais humanamente bonito do Poeta: “Devíamos ser todos irmãos.”»

 

Luciana Pinto

 

 

Apelo do Poeta 

 

Há muitos, muitos anos, estava eu e o meu amigo que decidira ser poeta num cenário de grande infelicidade. Era o pior cenário que se pode imaginar: cheirava a queimado, ouviam-se explosões, flechadas, espadadas, via-se destruição, ódio, que nem durante a noite acalmavam. 

Eu, que era médica, trabalhava 24 sobre 24 horas num hospital, só para conseguir salvar meia dúzia de pessoas. Às vezes, passava uma semana sem conseguir salvar ninguém. Uma tristeza! Dissemos então: 

- Este mundo vai de mal a pior! 

- A quem o dizes, minha amiga! 

- Já no hospital, aquilo parece um pesadelo: gritos dos familiares das vítimas por todo o lado, dor, sofrimento.  É horrível! E tu? Que me contas? 

- É impressionante como estas situações mudam tudo. Eu sento-me na minha mesa, como de costume, para escrever um poema e não consigo pensar em coisas felizes para versejar! 

- Pois…  Acredito! 

- O mundo seria melhor se todos nos ajudássemos uns aos outros. Haveria paz, harmonia. Diminuiria a pobreza, acabaria a fome, haveria convívio e, consequentemente, um sorriso na cara das pessoas. Não uma cara de desespero e de tristeza como as que vemos. Mas, hoje em dia, as pessoas só têm ódio, sede de poder, desejo de riqueza, vontade de serem superiores aos outros, provocando a guerra… Tudo ao contrário do que se procura numa pessoa com um interior bonito… 

            «E etc. Neste etc. ia um apelo do Poeta mais fundo, do mais humanamente bonito do Poeta. Devíamos ser todos irmãos.”» 

Érica Cardoso

 

 

            E lá ia eu a caminho da rua onde costumava tocar. As caras desanimadas das pessoas quase que me enfraqueciam. Não se ouvia nada na rua. Estavam todos chocados com a ameaça de guerra que o presidente havia feito no dia anterior. Todos, menos o poeta. 

            Passava por onde ele trabalhava todos os dias e até as flores tinham murchado e os faróis dos carros pareciam olhinhos tristes. O cheiro a fumo das fábricas parecia ainda mais forte. O vento cortava a pele em vez de ser refrescante. Os prédios altos eram como grades. 

            Porém, parecia que nada afetava o poeta. Ele continuava à frente do centro comercial a recitar poemas de que gostava e cumprimentava todos: 

            -Olá, Sr. Engenheiro! Teve um bom dia? E o seu filho?  

De repente, virou-se para mim. 

- Olha o meu companheiro, o outro artista! 

            - Bom dia. Não viste as notícias? - perguntei. 

            - Vi, sim, mas a minha arte fala por si. Não vou desanimar. 

            E continuei o meu dia. 

            Passadas algumas semanas, ele partiu para a guerra. Percebi, então, que ele havia deixado uma carta no seu chapéu:

“Deixo este local, meus amigos, com o meu coração apertado. Era tão bom se houvesse paz. Queria eu! Devíamos ser todos companheiros e devíamos ser pacíficos. Devíamos ser amigos e devíamos amar o próximo”. 

            «E etc. Neste etc. ia um apelo do Poeta - do mais fundo, do mais humanamente bonito do Poeta: “Devíamos ser todos irmãos.”»

 

 

 Helena Ferreira

 

 

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