Era para ser uma história de Halloween... Acabou por ser uma história com duas metades. A vários níveis!
Pelo Clube de Leitura e Escrita, numa tentativa fragmentada de concluir uma oficina de escrita criativa...
BALOBÓBORA - UMA HISTÓRIA A QUATRO MÃOS
O dia estava escuro. Antevia-se uma noite ainda
pior...
Encolhido o mais que podia, na sua palidez
habitual, o balão de enfeitar "fingia-se de morto", há muito guardado
naquele espaço exíguo, mas totalmente adequado a quem quer passar despercebido.
Não foi o caso.
Primeiro foram os olhos nele pousados. Depois, as
mãos, prontas a atacar. Várias. Virado de um lado, virado do outro. Aberto,
insuflado. O ventre calculadamente enchido, desfigurado, até na sua acostumada
e confortável palidez. Não estava certo! Não o iria permitir! Não seria uma
abóbora, por mais que tentassem!
O dia já ia longo. A noite, maior seria.
Para ali ficou: metade balão, metade... abóbora?
Um ser disforme, sem nome e sem valor algum.
Foi então que aconteceu algo inesperado. Uma
criança, de olhar atento e sorriso travesso, percebeu a angústia do balão
híbrido. “Por que é que tem de ser uma abóbora? E se fosse outra coisa? Algo
especial?”
Com dedos pequenos, mas ágeis, a criança começou
a dar forma a uma nova ideia. Procurou restos de tecidos e colou-lhe remendos
coloridos. Fez-lhe olhos com tampas de garrafas, uma boca com um pedaço de
papel dobrado e acrescentou-lhe uma fita brilhante, amarrada ao topo. O balão
transformou-se, então, numa criatura fantástica: o Balobóbora!
Os outros, que até então o olhavam com
desdém, ficaram maravilhados. Não era apenas decoração. Era um símbolo de
originalidade e liberdade. O Balobóbora passou a ocupar o lugar de destaque na
festa.
Nessa noite, o híbrido iluminou o espaço com uma
luz suave, refletindo as cores dos remendos e brilhando com uma força única. As
crianças dançavam à sua volta, e até os adultos, rendidos, comentavam a
genialidade da transformação.
O balão, que não quis ser abóbora, escapou ao
destino imposto. Tornou-se algo muito maior: um ícone de criatividade,
diferença e aceitação.
E assim, viveu a noite mais longa e brilhante da sua existência – não como balão, nem como abóbora, mas como o Balobóbora, único no mundo.