Na continuação das atividades desenvolvidas em torno da Comemoração do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, aqui ficam alguns dos trabalhos produzidos por alunos do Clube de Leitura e Escrita da ESRT. Os mesmos se encontram expostos à entrada da Biblioteca.
10 de abril de 1944
Hoje sinto que não consigo escrever. Mas vou fazer um esforço. Não sei muito bem por que insisto em encher este diário de tudo o que me assombra e aterra, mas deve ser porque me sinto a desesperar e preciso de me libertar destes fantasmas. O que se passa aqui em Dachau diariamente desafia a própria essência da humanidade. Não creio que os meus pais quando me levaram a Munique para as fileiras da Juventude Hitleriana, esperavam que acabasse aqui, a traduzir frases gemidas no medo, num beliche frio e amorfo como o céu fora desta janela. Este lugar é maldito e tresanda a morte. A desesperança. Há cópias de Dachau por todo o lado. Com crematórios. O odor acre e metálico de carne queimada teima em instalar-se e ficar na memória. Não quero deixar de o distinguir. Não quero ficar-lhe imune, porque não quero perder-me, nem a minha essência. Não sou perfeito, mas recuso ser “isto”.
O brilho e vivacidade de Munique parecem um sonho distante, substituídos pelo silêncio sufocante do sofrimento. Os rostos dos prisioneiros emaciados estão marcados pela agonia; cada olhar vazio reflete o horror que nos rodeia. Nem sei porque tento obstinadamente traduzir todas as palavras que os oficiais cospem na direção dos oprimidos. Repugna-me a minha própria língua na garganta dos soldados alemães. Reconheço dois ou três antigos camaradas, mas desconhecia-lhes o regozijo na crueldade. Já vomitei muito. Nos primeiros dias, nas primeiras semanas, nos primeiros meses.
Diariamente. Creio que estou quase tão desbotado como as sombras em farrapos que me pedem migalhas de restos, desperdícios de tudo, “o que já não quiser”. Sei que o fazem com terror nos olhos, mas quero acreditar que sabem que os auxilio à socapa, sempre que posso. Na verdade, todos me lembram, na sua humanidade, pessoas que poderiam viver na minha aldeia. Alguns, palpita-me, poderão ser mesmo de lá.
A minha resistência pode parecer isolada, mas quero acreditar que o não é – haverá mais como eu, que fazem pequenos atos desafiadores da máquina monstruosa, todos os dias e amiúde. Este regime enredou-nos a todos, mas não vai sobreviver. Não pode. Pressinto-o nas informações que os soldados tentam camuflar entre cigarros e brandy. Observo-o no entreolhar furtivo dos oficiais que chegam ao campo com ordens de cima, trocando códigos e medos do fim. Será que o “inimigo” virá libertar Dachau? Que o faça em breve. De bom grado mostrarei a bandeira branca, deixando por terra o símbolo do Reich, que nunca foi verdadeiramente meu.
Enquanto escrevo estas palavras, o peso
da culpa e da vergonha paira pesadamente sobre mim. Não posso apagar o passado
que me foi imposto, mas posso escolher como navegar por este inferno presente e
querer mais do futuro. Que a tinta que espalho nestas páginas sirva como
testemunho da chama muito ténue da humanidade que me recuso a extinguir em mim.
Mesmo nos cantos mais sombrios de Dachau.
Walter
(Açucena Alijaj, 11.ºH)
Todos amados, todos humanos
Vermelho no chão
Carmim na consciência
Bordô na mão
Tinto tingindo inocência
Fantasmas de tempos passados
Jamais poderão ser ignorados
Inocentes ceifados
Corações parados
Todos amados
Todos humanos
Se segues a vida de maneira “diferente”
Morres como toda a gente
Como todos maltratados
Como se fosse um pecado
Mas os pecadores são os no topo
Aqueles com o poder todo
Aqueles que se acham um deus
Mas nem vão ver os céus
Porque todos os mortos são vítimas
Todas amadas
Todas humanas
Todos merecemos amor
Todos merecemos liberdade
Todos merecemos ser protegidos
Da mais egoísta maldade
Infelizmente o porco no uniforme militar
Teve a oportunidade de falar
A história não se devia repetir
Porque todos os que não puderam fugir
Eram todos pessoas como nós
Todos amados
Todos humanos
Matilde Coelho (10.ºH)
Em respeito às vítimas do Holocausto, erguemos os nossos corações em tributo aos milhões que padeceram sob a opressão implacável. Cada vida extinta deixou uma cicatriz profunda na nossa história coletiva. Ao recordar os horrores do passado, reafirmamos o nosso compromisso com a justiça, tolerância e compreensão. A memória desses inocentes serve como um alerta perpétuo contra a intolerância e o ódio. Que o legado dessas vítimas inspire um mundo onde a humanidade prevaleça sobre a brutalidade, e que a lembrança do Holocausto perpetue a busca incansável por um futuro mais justo e compassivo.
(Matilde Lopes, 11.ºP)
The day the Nazi left
In the shadows of despair, a city's heart did sigh,
As the day the Nazi left drew a hopeful, tearful sky.
Tyranny's grip, once iron, began to slowly unclasp,
Yet scars remained, etched in time, within the city's
grasp.
The echoes of marching boots no longer filled the air,
A symphony of freedom played, casting out the nightmare.
Battered walls stood witness to a history untold,
Yet in the ruins, seeds of hope dared to unfold.
The streets, once hushed, now hummed with a new refrain,
A chorus of resilience, a melody against the pain.
Wounds ran deep, but bravery ran deeper still,
As the healing hands of time began their soothing skill.
The sun, hesitant at first, peeked through the clouds,
Warming faces that had known oppression's shrouds.
Neighbours, strangers, hand in hand, rebuilding broken trust,
A city scarred by hatred, decaying, drowned in rust.
For every brick that crumbled, a stronger wall arose,
A testament to the strength that from adversity grows.
Though shadows lingered, the dawn had finally won,
The day the Nazi left; a new era had begun.
1 comentário:
Simplesmente assombroso... Excelente trabalho!
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