Em mês de centenário (Natália de Oliveira Correia nasceu a 13 de setembro de 1923 e morreu a 16 de março de 1993), o nosso destaque para a escritora e poeta sobre a qual podem obter mais informação, visitando na biblioteca a exposição a ela dedicada.
Partilhamos também aqui o vídeo 100 anos de Natália Correia (da RTP Madeira).
E porque falamos de poesia, a voz de uma outra autora que não deixa de a homenagear:
4.
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Quis descrever o primeiro mar do Outono,
contar das gradações da luz na areia, na superfície
das marés, na dissimulação das nuvens, à medida
que os dias se estreitam, mas a morte interrompeu
o declínio das horas e das sombras, pelo que compor
significados e explicações passou a ser apenas
o silêncio dos escombros que acumula tudo
o que, de súbito, soa a uma indizível distância.
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Se olho para o que ficou para trás ocupando
o espaço inexistente entre dois poemas, talvez
o que não se aguarda já estivesse afinal previsto,
dobrando-se o mundo às profecias. Alice B.
não salvou o Verão nem sequer Agosto,
calou-se ao fim de sete dias, só mais um dia
do que deus precisou para descansar, assim
se revelando mais forte a sua não convicção
do que a minha crença.
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Convenço-me. Sobre o milho que já foi colhido
quase não há nuvens na maré vaza:
se é para escolher um presságio, eu só queria
«a tua mão por cima das horas»(1).
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25 de setembro de 2023
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[Sandra Costa]
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(1) Verso de Natália Correia.
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