“Devíamos ser todos irmãos”.»
Na aula de Português do 7.º D, no passado dia 26 de abril, os alunos
foram desafiados pela professora Alice Granginho, a escrever um texto narrativo que deveria terminar com o
seguinte excerto do Diário de
Sebastião da Gama: «E etc.
Neste etc. ia um apelo do Poeta - do
mais fundo, do mais humanamente bonito
do Poeta: “Devíamos ser todos irmãos”.»
Eis alguns dos textos
escritos pelos jovens escritores. Boa leitura!
Num
belo dia de primavera, em que o céu estava azul como o mar, eu estava a passear
por um jardim florido. Os passarinhos chilreavam como uma música calma.
Lá
continuava eu a passear até que vi um senhor vestido com roupas velhas,
com a camisa furada pelas traças, os sapatos com a sola
descolada e um chapéu sujo e roído pelos ratos, colocado na beira do
passeio de cimento. Reparei que ele tinha uma guitarra
que vibrava uma música mais calma do que o vento. Ele não tinha muito
bom aspeto, mas decidi aproximar-me, enlevado pela melodia. Quando me viu,
ele disse-me:
- Olá, meu jovem,
poderias dar-me uma esmola?
-
Sim, posso, mas, além disso, hoje vou levá-lo à barbearia e a um
restaurante. Depois, vamos dar um passeio por esta bela cidade.
Ele
aceitou e ficou todo feliz, como se fosse uma criança a receber um brinquedo
muito desejado.
Uma
vez que ele aceitou a minha proposta, passamos juntos uma boa
parte do dia. Durante o caminho, ele foi-me
contando a sua história de vida. Foi por pouco que não me emocionei
e não senti as minhas lágrimas salgadas a escorregar pelas minhas
feições.
Eu achei-o um senhor
muito humilde, mas bem-disposto. No final deste belo dia, quando o sol tão
laranja como o fruto se ia pôr, ele cantou-me uma
canção cujo poema versava sobre a vida...
«E etc.
Neste etc. ia um apelo do Poeta - do mais fundo, do mais
humanamente bonito do Poeta: “Devíamos ser todos irmãos”.»
Rodrigo
Silva
Os três poetas
Há
alguns anos, conheci três poetas. Dois deles eram parecidos, mas
o terceiro era completamente diferente, uma joia em pessoa. Em vez de
se preocupar consigo, só queria o bem e a paz para todos. Escrevia e escrevia
para tentar transportar as pessoas para um mundo melhor. Chamava-se
Carlos.
Num
dia de sol, encontrei-os a todos sentados no parque a redigirem
poemas. Cheguei-me à beira deles e perguntei se podia
espreitar o que escreviam. Após ler os três poemas, os companheiros
de Carlos perguntaram-me:
- Qual
é o que está melhor?
- Bom,
para mim, há um poema que se destaca vivamente! Faz-nos
sentir nas nuvens. É como se fosse um pequeno diamante, que ilumina cada
vez mais a nossa vida! Tem rimas muito elaboradas, com recursos
expressivos e sensações emocionantes. Os seus fios unem-se mais cada vez
que o relemos. Esse poema é o do Carlos. – disse eu.
O Carlos corou, porém, os outros dois ficaram com
ciúmes. Levantaram-se, pegaram no poema dele e rasgaram-no. O Carlos
olhou para mim. Deu para perceber a tristeza que ia no seu coração e no seu
olhar. Eu conseguia ler o seu pensamento… Apesar da tristeza profunda,
sobressaíam o perdão, a esperança na mudança,…
«E etc. Neste etc. ia um apelo do Poeta -
do mais fundo, do mais humanamente bonito do Poeta: “Devíamos ser todos
irmãos.”»
Luciana
Pinto
Apelo do Poeta
Há muitos, muitos anos, estava eu e o meu amigo
que decidira ser poeta num cenário de grande infelicidade. Era o
pior cenário que se pode imaginar: cheirava a queimado, ouviam-se
explosões, flechadas, espadadas, via-se destruição, ódio, que nem
durante a noite acalmavam.
Eu, que era médica, trabalhava 24 sobre 24 horas
num hospital, só para conseguir salvar meia dúzia de pessoas. Às
vezes, passava uma semana sem conseguir salvar ninguém.
Uma tristeza! Dissemos então:
- Este mundo vai de mal a pior!
- A quem o dizes, minha amiga!
- Já no hospital, aquilo parece um pesadelo:
gritos dos familiares das vítimas por todo o lado, dor,
sofrimento. É horrível! E tu? Que me contas?
- É impressionante como estas situações mudam
tudo. Eu sento-me na minha mesa, como de costume, para escrever
um poema e não consigo pensar em coisas felizes para versejar!
- Pois… Acredito!
- O mundo seria melhor se
todos nos ajudássemos uns aos outros. Haveria paz, harmonia.
Diminuiria a pobreza, acabaria a fome, haveria convívio e,
consequentemente, um sorriso na cara das pessoas. Não uma cara de
desespero e de tristeza como as que vemos. Mas, hoje em dia, as pessoas só
têm ódio, sede de poder, desejo de riqueza, vontade de serem
superiores aos outros, provocando a guerra… Tudo ao contrário do
que se procura numa pessoa com um interior bonito…
«E etc.
Neste etc. ia um apelo do Poeta mais fundo, do mais
humanamente bonito do Poeta. Devíamos ser todos irmãos.”»
Érica
Cardoso
E lá ia eu a caminho
da rua onde costumava tocar. As caras desanimadas das pessoas quase que me
enfraqueciam. Não se ouvia nada na rua. Estavam todos chocados com a ameaça de
guerra que o presidente havia feito no dia anterior. Todos, menos o
poeta.
Passava por onde
ele trabalhava todos os dias e até as flores tinham murchado e
os faróis dos carros pareciam olhinhos
tristes. O cheiro a fumo das fábricas parecia ainda mais
forte. O vento cortava a pele em vez de ser refrescante. Os
prédios altos eram como grades.
Porém, parecia
que nada afetava o poeta. Ele continuava à frente do centro comercial a recitar
poemas de que gostava e cumprimentava todos:
-Olá, Sr.
Engenheiro! Teve um bom dia? E o seu filho?
De repente, virou-se para mim.
- Olha o meu companheiro, o outro artista!
- Bom dia. Não viste
as notícias? - perguntei.
- Vi, sim, mas a
minha arte fala por si. Não vou desanimar.
E continuei o
meu dia.
Passadas algumas
semanas, ele partiu para a guerra. Percebi, então, que ele havia deixado uma
carta no seu chapéu:
“Deixo este local, meus amigos, com o meu coração
apertado. Era tão bom se houvesse paz. Queria
eu! Devíamos ser todos companheiros e devíamos ser
pacíficos. Devíamos ser amigos e devíamos amar o próximo”.
«E etc.
Neste etc. ia um apelo do Poeta - do mais
fundo, do mais humanamente bonito do Poeta: “Devíamos ser todos
irmãos.”»
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