10.4.21

Hoje comemoramos o aniversário dos 50 anos do nascimento do poeta Daniel Faria

 


Biografia

        


    Daniel Augusto da Cunha Faria nasceu em Baltar no dia 10 de abril de 1971. Licenciou-se em Teologia, na Universidade Católica e em Estudos Portugueses, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

No decorrer dos estudos universitários Daniel Faria concorreu a vários prémios literários, publicou os primeiros poemas e organizou um Círculo de Leitura(s) com o objetivo de promover a escrita poética e o contacto com autores; colaborou em diferentes revistas e fez desenhos, colagens, mobiles, encadernação e encenações.

A par da vida académica Daniel Faria desenvolveu um trabalho de serviço à comunidade, nomeadamente no Marquês e no Marco de Canaveses.

Aqueles que privaram com o poeta descreveram-no como fiel aos seus valores, um aluno aplicado e um amigo leal. Acerca de si próprio escreveu que era «um rosto que há-de vir» (Público, julho 14, 2001).

Após os estudos Daniel Faria optou pela vida monástica no mosteiro beneditino de Singeverga. No seguimento de uma queda doméstica faleceu no dia 9 de junho de 1999.

O jovem poeta publicou em vida várias obras: Uma Cidade com Muralha (1991), A Casa dos Ceifeiros (1993), Explicação das Árvores e dos Outros Animais (1998) e Homens Que São Lugares Mal Situados (1998), aos quais se seguiram, de publicação póstuma, Legenda para uma Casa Habitada e Dos Líquidos, ambos no ano 2000.

Considerado por alguns como um Poeta Maior da Língua Portuguesa, bebe as suas referências em alguns poetas portugueses como Herberto Helder, Sophia e Eugénio de Andrade.

Sophia foi para Daniel Faria o princípio da poesia e quando chegou a vez de Sophia o ler disse: «versos que põem o mistério a ressoar em redor de nós» (Público, julho 14, 2001).

Tolentino de Mendoça observou acerca da poesia de Daniel Faria: «é uma das aventuras poéticas mais radicais e luminosas que o século XX inscreveu na literatura portuguesa» (2012, Câmara Clara, RTP 2).

O poeta foi traduzido em várias línguas e tem sido objeto de teses de doutoramento.

 

 Poesia                                                                        

I

Amo o Caminho que Estendes

 

Amo o caminho que estendes por dentro das minhas divisões.
Ignoro se um pássaro morto continua o seu voo
Se se recorda dos movimentos migratórios
E das estações.
Mas não me importo de adoecer no teu colo
De dormir ao relento entre as tuas mãos.

 

II

Diário

 

Seja o que for

Será bom

É tudo.

 

III

Das manhãs 


Apenas levarei tua voz

Despovoada

Sem promessas

sem barcos

E sem casas

Não levarei o orvalho das ameias

Não levarei o pulso das ramadas

Da tua voz

Levarei os sítios das mimosas

Apenas os sítios das mimosas

As pedras

As nuvens

O teu canto

Levarei manhãs     

E madrugadas

 

IV

Voz no vento passando entre poeira


Edifício

Árvore noutro poema

Fico à sombra da vide e do esteio no outono

E enxerto a luz

Em tudo o que nomeio

 

V

Explicação da Ausência

Desde que nos deixaste o tempo nunca mais se transformou
Não rodou mais para a festa não irrompeu
Em labareda ou nuvem no coração de ninguém.
A mudança fez-se vazio repetido
E o a vir a mesma afirmação da falta.
Depois o tempo nunca mais se abeirou da promessa
Nem se cumpriu
E a espera é não acontecer — fosse abertura —
E a saudade é tudo ser igual.

 

VI

Pórtico

Com os meus amigos aprendi que o que dói às aves
Não é o serem atingidas, mas que,
Uma vez atingidas,
O caçador não repare na sua queda
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