3.6.25

Livros com Ciência, Ciência nas Palavras

 Na passada sexta-feira, dia 30 de maio, a Biblioteca Escolar e o Clube de Leitura e Escrita, associaram-se ao Clube de Ciência Viva da ESRT e participaram na Feira das Ciências. 

 Em mostra, estiveram livros do nosso acervo, para divulgação e consulta, bem como textos criativamente elaborados por membros do CLE que responderam ao desafio e colocaram ciência nas suas palavras. 





Com Batas, Com Batom, Com Bravura

 

No princípio, era a interrogação.

E havia silêncio nas salas dos sábios.

As mulheres varriam o chão da razão,

com olhos acesos e mãos ocupadas

a medir o mundo por entre tarefas invisíveis.

Mas nunca deixaram de perguntar.

 

Foram elas…

as que misturaram saber com coragem

nos tempos em que ciência era só coisa de cátedra e gravata.

Bruxas, curandeiras, parteiras com doutoramento empírico,

as que sabiam mais do que diziam

porque sabiam que dizer… era perigoso.

 

Elas ouviram o ritmo da célula

como quem ouve o mar dentro de uma concha.

E escreveram equações

com a mesma paciência com que se tece um enxoval.

 

Os homens erguiam catedrais de certeza.

Elas semeavam dúvida fértil,

colhiam dados, olhavam devagar,

e chamavam à ciência - gesto.

 

Maria de Sousa ouviu os murmúrios do corpo

e falou com os linfócitos como quem consola um filho.

Elvira Fortunato pegou no papel — coisa de embrulho —

e fez dele futuro,

porque sabia que inovação também se escreve à mão.

Joana Osório, com serenidade de jardim interior,

desvendou os labirintos da dor

sem perder o caminho da ternura.

 

Elas foram muitas…

como raízes sob a terra dura,

como marés que não se veem,

mas movem continentes.

 

E quando lhes perguntavam:

“Mas tu és cientista mesmo?”

sorriam.

A ironia era o seu bisturi.

Não gritavam. Mas persistiam.

E a verdade acabava por ceder.

 

Agora, no século que se anuncia,

elas não entram nos laboratórios — pertencem-lhes.

Sabem o nome das estrelas,

o peso dos elementos,

e o modo exato como a luz dobra à entrada da água.

 

São filhas da razão e da esperança,

irmãs da poesia e da física.

Sabem que estudar é também resistir,

e que descobrir

é uma forma de amar o mundo.

                                                              Açucena Alijaj, 12.ºH

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