2.2.24

"100 Palavras em Memória das Vítimas do Holocausto"

 Na continuação das atividades desenvolvidas em torno da Comemoração do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, aqui ficam alguns dos trabalhos produzidos por alunos do Clube de Leitura e Escrita da ESRT. Os mesmos se encontram expostos à entrada da Biblioteca.

10 de abril de 1944

Hoje sinto que não consigo escrever. Mas vou fazer um esforço. Não sei muito bem por que insisto em encher este diário de tudo o que me assombra e aterra, mas deve ser porque me sinto a desesperar e preciso de me libertar destes fantasmas. O que se passa aqui em Dachau diariamente desafia a própria essência da humanidade. Não creio que os meus pais quando me levaram a Munique para as fileiras da Juventude Hitleriana, esperavam que acabasse aqui, a traduzir frases gemidas no medo, num beliche frio e amorfo como o céu fora desta janela. Este lugar é maldito e tresanda a morte. A desesperança. Há cópias de Dachau por todo o lado. Com crematórios. O odor acre e metálico de carne queimada teima em instalar-se e ficar na memória. Não quero deixar de o distinguir. Não quero ficar-lhe imune, porque não quero perder-me, nem a minha essência. Não sou perfeito, mas recuso ser “isto”.

O brilho e vivacidade de Munique parecem um sonho distante, substituídos pelo silêncio sufocante do sofrimento. Os rostos dos prisioneiros emaciados estão marcados pela agonia; cada olhar vazio reflete o horror que nos rodeia. Nem sei porque tento obstinadamente traduzir todas as palavras que os oficiais cospem na direção dos oprimidos. Repugna-me a minha própria língua na garganta dos soldados alemães. Reconheço dois ou três antigos camaradas, mas desconhecia-lhes o regozijo na crueldade. Já vomitei muito. Nos primeiros dias, nas primeiras semanas, nos primeiros meses. 

Diariamente. Creio que estou quase tão desbotado como as sombras em farrapos que me pedem migalhas de restos, desperdícios de tudo, “o que já não quiser”. Sei que o fazem com terror nos olhos, mas quero acreditar que sabem que os auxilio à socapa, sempre que posso. Na verdade, todos me lembram, na sua humanidade, pessoas que poderiam viver na minha aldeia. Alguns, palpita-me, poderão ser mesmo de lá.

A minha resistência pode parecer isolada, mas quero acreditar que o não é – haverá mais como eu, que fazem pequenos atos desafiadores da máquina monstruosa, todos os dias e amiúde. Este regime enredou-nos a todos, mas não vai sobreviver. Não pode. Pressinto-o nas informações que os soldados tentam camuflar entre cigarros e brandy. Observo-o no entreolhar furtivo dos oficiais que chegam ao campo com ordens de cima, trocando códigos e medos do fim. Será que o “inimigo” virá libertar Dachau? Que o faça em breve. De bom grado mostrarei a bandeira branca, deixando por terra o símbolo do Reich, que nunca foi verdadeiramente meu.

Enquanto escrevo estas palavras, o peso da culpa e da vergonha paira pesadamente sobre mim. Não posso apagar o passado que me foi imposto, mas posso escolher como navegar por este inferno presente e querer mais do futuro. Que a tinta que espalho nestas páginas sirva como testemunho da chama muito ténue da humanidade que me recuso a extinguir em mim. Mesmo nos cantos mais sombrios de Dachau.

Walter 

                                                           (Açucena Alijaj, 11.ºH)



Todos amados, todos humanos 

 

Vermelho no chão 

Carmim na consciência 

Bor na mão  

Tinto tingindo inocência 

Fantasmas de tempos passados 

Jamais poderão ser ignorados 

Inocentes ceifados 

Corações parados 

Todos amados 

Todos humanos 

 

Se segues a vida de maneira “diferente” 

Morres como toda a gente 

Como todos maltratados 

Como se fosse um pecado 

Mas os pecadores são os no topo 

Aqueles com o poder todo 

Aqueles que se acham um deus 

Mas nem vão ver os céus 

Porque todos os mortos são vítimas 

Todas amadas 

Todas humanas 

 

Todos merecemos amor 

Todos merecemos liberdade 

Todos merecemos ser protegidos 

Da mais egoísta maldade 

Infelizmente o porco no uniforme militar 

Teve a oportunidade de falar 

A história não se devia repetir 

Porque todos os que não puderam fugir 

Eram todos pessoas como nós 

Todos amados 

Todos humanos 

Matilde Coelho (10.ºH)


Em respeito às vítimas do Holocausto, erguemos os nossos corações em tributo aos milhões que padeceram sob a opressão implacável. Cada vida extinta deixou uma cicatriz profunda na nossa história coletiva. Ao recordar os horrores do passado, reafirmamos o nosso compromisso com a justiça, tolerância e compreensão. A memória desses inocentes serve como um alerta perpétuo contra a intolerância e o ódio. Que o legado dessas vítimas inspire um mundo onde a humanidade prevaleça sobre a brutalidade, e que a lembrança do Holocausto perpetue a busca incansável por um futuro mais justo e compassivo. 

(Matilde Lopes, 11.ºP)


The day the Nazi left

In the shadows of despair, a city's heart did sigh,

As the day the Nazi left drew a hopeful, tearful sky.

Tyranny's grip, once iron, began to slowly unclasp,

Yet scars remained, etched in time, within the city's grasp.


The echoes of marching boots no longer filled the air,

A symphony of freedom played, casting out the nightmare.

Battered walls stood witness to a history untold,

Yet in the ruins, seeds of hope dared to unfold.


The streets, once hushed, now hummed with a new refrain,

A chorus of resilience, a melody against the pain.

Wounds ran deep, but bravery ran deeper still,

As the healing hands of time began their soothing skill.

The sun, hesitant at first, peeked through the clouds,

Warming faces that had known oppression's shrouds.

Neighbours, strangers, hand in hand, rebuilding broken trust,

A city scarred by hatred, decaying, drowned in rust.

For every brick that crumbled, a stronger wall arose,

A testament to the strength that from adversity grows.

Though shadows lingered, the dawn had finally won,

The day the Nazi left; a new era had begun.

                                                                   (Açucena Alijaj, 11.ºH)


1 comentário:

Daniel Monteiro disse...

Simplesmente assombroso... Excelente trabalho!